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domingo, 18 de dezembro de 2011

Tchau, Vovô Geraldo!

     Ontem, fomos há um casamento às 11h. A noiva só chegou ao meio-dia. Enquanto aguardávamos, fiquei com meu filho do lado de fora. Passou um teco-teco monomotor voando. Imediatamente, me lembrei do meu pai.   

     Meu pai foi uma mãe! Acho que essa á a melhor forma de descrevê-lo.
  • Ele era o mais coruja! Sério, nunca conheci ninguém que tivesse mais orgulho dos filhos que ele. Sabe aquelas besteirinhas que criança faz e pede pro pai, a mãe, ou qualquer outro adulto assistir? Meu pai era a platéia que qualquer criança sonhou, porque ele realmente achava muito legal aquela nossa pequena, porém grande para nós, conquista.
  • Ele dialogava. Me lembro de, quando pequena, perguntar de onde nós viemos e outras perguntas existenciais. Meu pai, que era ateu, dizia: "não sei, o que você acha?". E ficamos lá na varanda, olhando a cidade acesa e filosofando. Não importava se tínhamos 3 ou 13 anos, meu pai sempre nos ouviu e levou nossa opinião em conta. Quando achávamos que ele tinha sido injusto, reclamávamos e ele pedia desculpas.
  • Ele tocava violão pra gente TODO DIA antes de dormir!
  • Ele não gostava de dizer "Te amo". Ele achava que deveríamos agir e não falar. Então, ele nos dava cheirinho, abraçava, beijava e dançava com a gente.
  • Ele era paciente. Passava horas tentando entender porque eu e minha irmã tínhamos brigado (coisa que acontecia 250 mil vezes por dia). 
  • Para todo não, havia explicação. Acho que isso me fez uma adolescente bem calma...
  • Ele sempre nos colocou em primeiro lugar. Quando crianças, mudamos pra uma cidade do interior, longe da família, dos amigos e sem opções de lazer (para ele e minha mãe), só para que eles pudessem desfrutar mais de nossa companhia. NUNCA meus pais tiraram férias e nos deixaram com avós, tias e etc. Nem que eles tivessem que ficar 3 anos sem tirar férias, para poder juntar dinheiro suficiente para irmos todos juntos. 
  • Quando percebeu que seu câncer não teria cura, ele não mergulhou na depressão ou na auto piedade, ele cuidou para que nós e minha mãe tivéssemos condições financeiras para viver bem, já que grande parte da nossa renda vinha das consultas particulares dele (ele era médico). 
  • Quando já estava no hospital, na sua última semana de vida, não comia bem, não reconhecia as pessoas. Mas eu e minha irmã ele sempre reconheceu. Quando não queria comer, a gente dava a comida e pedia pra comer só mais um pouco, e ele acabava comendo. A gente tocava violão pra ele e cantava com a gente, mesmo estando fraco.
     Nem preciso dizer que sinto falta dele! Há 13 anos que diariamente sofro pela sua ausência. Mas nem sempre choro, poque acho que ele dedicou a vida para que eu fosse feliz. Então, engulo a tristeza, chacoalho a cabeça e bola pra frente. Desde de que me tornei mãe, penso no quanto meus filhos se divertiriam com vovô Geraldo. Mas, o máximo que posso fazer é contar histórias, mostrar fotos e colocar as fitas cassetes dele cantando conosco...
     Meu pai era médico, mas achava que deveria ter sido piloto de avião. Batalhou por seu sonho e tirou brevê. Pilotava o teco-teco monomotor do aeroclube nos momentos de lazer.
     Ontem, ao ver o avião, disse pro meu filho: "Vovô Geraldo pilotava um avião igual aquele". 
     E ele, enquanto acenava pro avião, disse: " Tchau, vovô Geraldo".
     E eu chorei! E fiquei pensando com meus botões, que espero que, dentro da cabeça dele, tenha sido assim a sua despedida dessa vida: um voo no teco-teco que ele tanto gostava, levando-o para uma nova vida!
     Tchau, vovô Geraldo! Vá levando um pedaço do meu coração, e tendo a certeza que você foi o melhor pai do mundo, e que tudo que você fez por mim, me tornou uma pessoas mais empática, segura e feliz! 

   
    

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